Faça uma lista dos melhores games do Nintendo 64. Vai ter Conker’s Bad Fur Day, certo? Não é à toa: o game da Rare não foi apenas um marco para a plataforma, mas também para toda a indústria de games graças ao seu humor negro, violência explícita e paródias com a cultura pop. Ele era um jogo de plataforma que quebrava o estigma de que todo jogo do gênero tinha de ser fofinho e infantil.
Não por acaso, seu único game conquistou uma legião de fãs e cravou o nome da Rare como o estúdio mais engenhoso da época. Tão logo a empresa britânica foi adquirida pela Microsoft, houve um remake muito bonito para o Xbox clássico chamado Live & Reloaded e desde então o esquilo boca suja somente foi visto em participações especiais do Project Spark (que, aliás, foi cancelado).
Para quem não ficou sabendo, Young Conker apresenta um novo modelo do personagem em um game para os óculos de realidade aumentada Hololens, da própria Microsoft. Aqui os jogadores podem interagir com Conker, e guia-lo para cumprir missões dentro da sua sala de estar. O game está em desenvolvimento pela Asobo Studio, um estúdio francês muito pouco conhecido, mas que já trabalhou em alguns games famosos como ReCore, Toy Story 3 e Up. O trailer do Youtube já teve mais de 540 mil visualizações, sendo que apenas 1750 deram sinal positivo, enquanto que 27 mil pessoas negativaram o vídeo.
Muito desta reação negativa se deve ao redesign do personagem, que não lembra nada a versão clássica do personagem do N64, nem o “fofinho” do Xbox. Aqui temos um Conker esquelético e sem o mesmo humor ou brilho de outrora. Mais importante do que isso: a comunidade desejava uma verdadeira sequência para o mascote, ou seja, um game de plataforma em terceira pessoa com muitas piadas e level design bem produzidos. Quem sabe com paródias de games da própria Microsoft, como Halo ou Alan Wake?
O poderio gráfico do Xbox One seria capaz de gerar um game do Conker especialmente bonito, como deu para ver no natimorto Project Spark. Mas ao invés disso, os executivos preferiram utilizar o personagem para vender um acessório que nem todos poderão comprar logo no início. O problema está justamente nisso: a comunidade está à espera de um verdadeiro jogo do Conker há mais de dez anos. Mas ao invés disso, teremos uma aplicação para poucos.
Claro que o jogo em si pode ser um killer app divertido e que cale a boca dos críticos, mas a verdade é que este não é o Conker que a comunidade espera e se pudéssemos adivinhar qual o desejo que a comunidade gostaria que a Microsoft atendesse seria “dê-nos um game do Conker verdadeiro”. As boas vendas do Rare Replay são um bom sinal de que a comunidade ainda gosta do Conker e quer vê-lo em seus dias de glória.
E afinal, será que a Microsoft tem algum problema pessoal com a Rare? Porquê não deixar a criadora do personagem criar um novo game? Tudo bem que os funcionários da antiga Rare não estão mais lá, contudo seria importante para a marca e para o público ver que o novo pessoal que está tocando o barco pode fazer tão bem (ou até melhor) que o time de Chris e Tim Stamper. Bastaria um voto de confiança.
Muita gente acredita que um dos capítulos mais negros da história dos videogames foi a compra da Rare. Pessoalmente acredito que o estúdio ainda tem bastante potencial. Basta ver o que eles fizeram com Viva Piñata e Kameo: Elements of Power. Quem sabe colocar o Conker de volta na mão deles fosse melhor escolha do que uma aplicação estranha para o Hololens?
Afinal de contas, qualquer personagem poderia substituir o Conker neste jogo, se a intenção é apenas criar um personagem para interagir com a casa do jogador. Para a comunidade só resta uma esperança: se a Microsoft teve coragem para cancelar um game tão aguardado quanto Scalebound, que tomem a mesma decisão com Young Conker.