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O Show de Marcelo Tavares

Marcelo Tavares

Uma das pessoas mais influentes da indústria de jogos eletrônicos no Brasil é o Marcelo Tavares. Se esse nome é estranho a você, saiba que os feitos dele são reconhecidos até mesmo por quem não curte jogos eletrônicos. Marcelo Tavares é o idealizador e criador da Brasil Game Show, o maior evento de games da América Latina e um dos eventos de games mais famosos do mundo.

Se antes o evento começou como uma reunião de amigos, hoje em dia é ele que traz as maiores novidades do mercado mundial e consegue reunir produtores e personalidades como Yoshinori Ono (Street Fighter), Katsuhiro Harada (Tekken), Phil Spencer (Xbox), entre outros. Como foi que Tavares conseguiu reunir essa turma conceituada e por que a BGS conseguiu se consolidar no calendário anual, ao passo que outros eventos importantes naufragaram?

Além de empresário bem sucedido, Tavares é também um colecionador compulsivo de videogames (a coleção de consoles na BGS é dele). Em seu acervo há consoles muito reconhecidos como o Atari 2600, mas há também videogames bastante obscuros como o Vectrex. Além disso, cada “novo” console de Tavares é tratado com cuidados dignos de relíquias preciosas, mais ou menos do mesmo modo que você, leitor, trata seu Playstation 4 novo em folha.

O GameReporter conseguiu uma entrevista exclusiva com o Marcelo Tavares, onde falamos sobre os rumos da BGS e sobre sua paixão por videogames. Confira!

 

Como começou sua carreira de empresário? Conte-nos um pouco de sua história.

Minha carreira começou quando fiz 17 anos e passei a fazer alguns trabalhos gráficos caseiros, como cartazes e cartões de visitas. Fazia também serviços de tradução nesta época. Depois disso, trabalhei como vendedor de planos de saúde, mas logo me tornei empresário, como sócio em um curso de computação. Em 2002 criei meu primeiro encontro de “gamers” e a partir daí, minha vontade de atuar nesta área foi crescendo.

Em paralelo, escrevi também para diversas editorias de games e cheguei a participar de programas relacionados ao tema. Como não tive muito retorno financeiro,  passei a atuar em outros segmentos e cheguei a gerenciar uma loja de doces, uma padaria, um restaurante e  trabalhar como corretor imobiliário. Felizmente, em 2009, consegui realizar a primeira Rio Game Show e, a partir daí,  não saí mais da área até chegar à Brasil Game Show.

 

A coleção de videogames que você tem é bem impressionante. Você costumava jogar todos os consoles? Sobrava tempo para eles?

Sempre joguei bastante e até hoje gosto de jogar alguns antigos para relembrar. É claro que, com uma quantidade tão grande – atualmente, possuo mais de 350 consoles, cerca de 3.000 jogos e centenas de acessórios – fica complicado jogar todos.

 

Quais eram seus jogos favoritos?

Posso mencionar alguns como Pac Man, River Raid, Fifa, Battlefield, Forza, Need For Speed, Call of Duty, Gran Turismo. Todos estes joguei desde as primeiras versões até as mais novas, no caso dos que tiveram continuidade.

 

Dentro da sua coleção tem algum item que você tenha bastante ciúme?

Tenho um grande apego por todos os meus consoles antigos – até mesmo pela dificuldade em adquirir alguns. Além disso, possuo algumas raridades e consoles que fizeram parte da história e tenho certo receio de danificá-los. Entre eles, destaco o Virtual Boy, Pippin, Microvision, Channel F, Game & Watch, 3DO, Jaguar, Vectrex e Amiga CD 32.

 

Como surgiu a ideia de criar o Rio Game Show? O Rio Game Show começou bem modesto e hoje é a BGS, o maior evento de games do Brasil. Como se deu esse crescimento?

Em 2002 criei um encontro para amantes e colecionadores, assim como eu, para que pudéssemos trocar experiências. Resolvi chamá-lo de GameChurrasco. Na época, a ideia não deu muito certo. Como o nome já indica, era um churrasco e as pessoas não tinham cuidado, acabavam pegando os consoles com as mãos sujas, derramando refrigerante etc. Anos depois, em 2009, criei a Rio Game Show, que era um eventopequeno, regional e com menos de cinco mil visitantes, mas que, desde o princípio demonstrava potencial para crescer e ganhar atenção no mercado.

O evento foi crescendo e tomando proporções incríveis. Maior e mais conhecido, houve a necessidade de um novo título. Foi então que, em 2010, surgiu o nome Brasil Game Show (BGS) e a partir de então, em sua terceira edição, contou com a presença de grandes empresas do mercado. Foi o novo nome e aceitação cada vez maior por parte de empresas e público que fizeram com que, em 2011, o evento recebesse o título de “maior feira de games da América Latina”. Reunindo mais de 60 mil pessoas no Rio de Janeiro, a BGS começou a ser escolhida por algumas das maiores empresas do segmento para fazerem seus anúncios para a América Latina.

Mudamos para São Paulo em 2012 e a BGS foi muito bem aceita no novo local. Nesta edição, contamos com 100 mil visitantes. Nos anos seguintes, felizmente, a BGS continuou crescendo e recebeu 151 mil visitantes em 2013, e 250 mil, no ano seguinte. Em 2015, a feira bateu recorde, recebendo mais de 300 mil pessoas, mais de 100 lançamentos, campeonatos e muitas atrações. Para 2016, estamos inovando mais uma vez. Com nova data e local – 01 a 05 de setembro, no São Paulo Expo –, pretendemos levar aos visitantes um número ainda maior de novidades, empresas participantes, atrações e lançamentos.

 

A que você atribui o sucesso da BGS e ao fracasso dos outros eventos?

Acho que um dos fatores que faz a BGS dar certo é que sou um grande apaixonado pelos games, então tudo é pensado para os fãs.. Quero que eles tenham acesso às novidades do mercado, que possam jogar títulos que ainda nem foram lançados, que conheçam as pessoas responsáveis pelos games que eles gostam. Por outro lado, apesar da paixão, sempre agi com muito profissionalismo e ética. Acho que a BGS conseguiu mostrar seu potencial e, hoje, temos grande credibilidade com fãs e empresas participantes.

 

De todos esses anos organizando eventos, quais você considera os momentos mais relevantes na história da BGS?

Sei o quanto é satisfatório para um fã testar um jogo antes mesmo de seu lançamento mundial. Durante a BGS, todos os anos, junto às empresas participantes, damos aos visitantes esta oportunidade e acho que este é um fator marcante. Além disso, trazemos para a feira grandes nomes do mercado, produtores de algumas das franquias mais aclamadas do mundo e acho que isso não tem preço.

Alguns destaques:

2009 (1ª edição) – Exposição de consoles antigos

2009 (2ª edição) – Videoconferência com Ralph Baer, criador do primeiro videogame da história

2010 – Lançamento da plataforma PlayStation no Brasil com a primeira participação na Brasil Game Show

2011 –XBOX participou oficialmente pela primeira vez na BGS

2012 – Sony, Nintendo e Microsoft participaram

2013 – Apresentação, pela primeira vez para os jogadores brasileiros do XBOX One e do PlayStation 4

2014 – Presença do produtor de Mortal Kombat, Ed Boon

2015 – Presença do Chefe da divisão XBOX, Phill Spencer, Yoshinori Ono, produtor de Street Fighter e participação do YouTube com o maior estande já feito pela empresa no mundo.

 

Você disse em entrevistas que a próxima edição deve ocorrer em outro local? Qual a razão dessa mudança?

Em 2016, a BGS acontecerá, pela primeira vez, no São Paulo Expo. O centro de exposições, congressos e convenções está sendo construído  e ficará pronto em maio de 2016. Será um complexo multifuncional muito mais sintonizado com a expressão e a necessidade da BGS. Com isso, os visitantes podem aguardar ainda mais novidades. A nova estrutura permite montar estandes espetaculares, de até mil m² e com um número muito maior de estações de jogos. Lá, os produtores de games independentes também terão mais oportunidades: vamos duplicar a área indie e cerca de 70 estúdios de desenvolvimento de jogos poderão mostrar seus trabalhos. Em 2014 foram sete, e, em 2015, 36 estandes.

Para os visitantes, as facilidades vão começar antes mesmo de entrarem na feira, pois terão uma área de concentração climatizada. O acesso também fluirá melhor, pois será feito por quatro grandes entradas, o dobro da edição de 2015. Quanto às ruas, serão mais largas e permitirão circular, visualizar e localizar os estandes mais facilmente. Outra novidade do novo espaço irá agradar especialmente à imprensa e convidados, que poderão acessar um exclusivo mezanino, ter uma visão geral da BGS e captar boas imagens.

A localização é outro ponto forte do São Paulo Expo. O novo palco da BGS fica a apenas 10 minutos do aeroporto de Congonhas e do Rodoanel Mario Covas e a 850 metros do metrô Jabaquara, com traslado grátis de ônibus durante todos os dias de feira. Estão sendo investidos R$ 300 milhões na reforma dos 40 mil m² de pavilhões já existentes e na construção de mais de 50 mil m² de área de exposição e 10 mil m² de centro de convenções. O “novo” São Paulo Expo será inaugurado em 2016 e também terá um edifício garagem com 4,5 mil vagas (o maior estacionamento coberto do Brasil), e um avançado sistema de climatização e rede Wi-Fi.

 

Falando com as grandes e pequenas produtoras, você acredita que o mercado de games está em alta no Brasil?

Felizmente, o cenário brasileiro de games é bastante positivo. Atualmente, o Brasil é o maior  mercado da América Latina e ocupa a quarta  colocação  no ranking mundial. O País tem mostrado grande potencial e podemos observar isso dentro da própria BGS, onde o número de produtoras independentes brasileiras vem crescendo e se destacando. Como afirmei anteriormente, na BGS 2014 tínhamos sete estandes indies. Em 2015 este número subiu para 36 e, para 2016, serão 72 espaços dedicados a eles  nesta área. Este é apenas um exemplo deste crescimento.

 

Marcelo Tavares, numa escala de zero a dez, o quanto os impostos atrasam a indústria de jogos no Brasil? Por quê?

Dez. O mercado já cresce com eles, imagina sem , ou ao menos com uma tributação mais justa? Tudo bem que as empresas, hoje em dia, se adaptaram às regras brasileiras e muitas produzem por aqui. Mas o mundo é globalizado, o Brasil precisa ser competitivo. Os impostos tiram a nossa competitividade e ainda afastam uma minoria importante de empresas que esperamos que venham atuar aqui nos próximos anos.

 

O evento já é consolidado na América Latina. Qual o próximo passo da BGS?

Estamos trabalhando para que a BGS melhore a cada ano. Em cada edição, tentamos melhorar algum ponto e aplicar as sugestões feitas por nossos visitantes. Este ano, por exemplo, conseguimos antecipar a venda de ingressos para facilitar ainda mais. Além disso, estamos nos mudando para um novo lugar, que será o maior e mais moderno centro de exposições do Brasil – o São Paulo Expo. A data também irá favorecer os visitantes, de forma que tenham a oportunidade de testar um número ainda maior de lançamentos.

Queremos mostrar, cada vez mais, a força do mercado nacional, para que os outros países e mercados tenham a oportunidade de conhecer nosso potencial. Desta forma, conseguimos atrair também a atenção das grandes empresas que, hoje, já olham para o Brasil com outros olhos. Um dos maiores avanços que posso destacar neste sentido é o grande número de jogos traduzidos para português e até mesmo fases e personagens e brasileiros em alguns dos títulos mais famosos do mundo gamer.

 

Costumamos falar muito sobre jogos e produtores indie. Qual a dica que você pode dar para que eles façam bonito nas próximas edições da BGS?

É necessário conhecer bem o mercado antes de iniciar qualquer negócio. Analisar as empresas já existentes e ver quais são as oportunidades é uma boa estratégia. Além disso, é preciso se especializar e, se for o caso, fazer bons cursos, sem esquecer-se de manter contato com outros profissionais da área para observar o máximo de informações através de suas experiências.

 

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