Grupo de professores, pesquisadores e profissionais da área de games publicam carta aberta a comunidade sobre a relação Jogos digitais e violência

Na última terça-feira (18), o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, cometeu um deslize ao associar os jogos eletrônicos a episódios violentos envolvendo jovens. Motivados pela fala do político, um grupo de pesquisadores, professores, coordenadores de curso e desenvolvedores de jogos digitais no Brasil divulgaram uma carta aberta para desmistificar a crença popular de que jogos digitais são responsáveis por comportamentos violentos. Ao contrário, a carta enfatiza que jogos digitais podem trazer benefícios à sociedade, inclusive sendo utilizados como mediadores de ensino e aprendizagem.

O objetivo da carta é destacar que agências de fomento estaduais e federais têm investido em projetos de jogos digitais voltados para a educação, com resultados positivos comprovados por pesquisas acadêmicas. O grupo que assina o documento ainda enfatiza que os jogos digitais podem ser espaços para o desenvolvimento de habilidades como a criatividade, o pensamento crítico, a resolução de problemas e o trabalho em equipe.

Segundo a carta, pesquisas realizadas no Brasil e no exterior mostram que jogos digitais podem ser aplicados em diversos contextos educacionais, desde o Ensino Fundamental até o Ensino Superior, e em disciplinas como Matemática, Ciências, História, Geografia e Língua Portuguesa.

Os autores da carta pedem que a sociedade brasileira apoie o desenvolvimento de jogos digitais educativos e reconheça o potencial desses jogos como ferramentas de transformação social. Em resumo, a carta aberta é uma resposta ao equivocado senso comum que associa jogos digitais a comportamentos violentos e reforça a importância dos jogos digitais como produtos culturais relevantes e mediadores de ensino e aprendizagem.

Dito isto, vocês podem conferir a carta na íntegra clicando no link abaixo:

CARTA ABERTA

 

Edit: O grupo permanece aberto para receber assinaturas nesta carta. Toda a comunidade é bem vinda e pode contribuir para deixar claro que somos uma comunidade aberta ao diálogo e que preza pela paz e a educação. Caso queira assinar, por favor envie seu nome completo e qualificação para o e-mail carta.jogos.2023@gmail.com. ainda de acordo com o grupo de professores, conforme forem recebidas novas assinaturas, a carta será atualizada e estará disponível sempre pelo mesmo link. Pede-se que entenda que esse não é um processo automático.
Para ter uma ideia sobre a qualificação, veja na versão atual da carta como os demais colegas assinaram:

REBEL – Carta aberta sobre o massacre de Suzano

A REBEL solidariza-se com as vítimas do crime em Suzano. Infelizmente, mais uma vez os jogos aparecem como bode expiatório em um caso complexo, por isso a REBEL oferece sua resposta.

NOTA DA DIRETORIA DA REDE BRASILEIRA DE ESTUDOS LÚDICOS – 14 DE MARÇO DE 2019

A diretoria da Rede Brasileira de Estudos Lúdicos apresenta, por meio desta nota, seu repúdio à associação entre jogos eletrônicos e comportamento violento. Em voga nos meios de comunicação e nas redes sociais de políticos menos esclarecidos, a opção de identificar o jogo como bode expiatório é um desvio de problemas sérios relacionados a criminalidade e cultura.

Sem prejuízo das pesquisas sérias que visam identificar bons e maus potenciais dos jogos em geral, o que a REBEL quer combater é uma mistificação que simplifica problemas multifacetados. Não surpreende que existam criminosos que joguem, afinal os usuários de jogos eletrônicos no Brasil são mais de 75 milhões (Newzoo, 2018).

Muitos fatores pessoais e sociais afetam o comportamento dos indivíduos. Se a culpa do comportamento violento for mesmo de algum artefato cultural, então é preciso lembrar que a cultura da violência está presente num ambiente muito mais abrangente: filmes, literatura, telenovelas, trânsito, redes sociais são terreno em que historicamente se cultiva o conflito.

A disponibilidade de armas de fogo é uma condição e a cultura belicista em que estamos inseridos é um incentivo à resolução trágica de questões pessoais, seja por entusiastas dos jogos, maridos ciumentos, justiceiros etc.

O jogo ensina a encarar o outro como adversário ou parceiro, não inimigo. A REBEL defende regras melhores para o jogo da vida. Reações irracionais às tragédias do cotidiano podem ser péssimas jogadas.

São Paulo, 14 de março de 2019