Crônicas gamer anos 1990. Por que Final Crash? Não seria Final Fight?

O ano era 1992. O meu colega, Quitão, chega repentinamente. Há tempos não o via, pois nos tínhamos desentendido em uma briga na locadora de games da esquina. Disse que tinha algo urgente a dizer. O menino era um ano mais velho que eu, morava de frente ao campinho de bola do outro quarteirão. Naquele tempo, havia a turminha dos quarteirões, que não se misturavam, mas, de vez em quando, pegávamos a Caloi Cross (só tinha dois modelos: roxa ou verde limão) e fazíamos umas pesquisas de campo, para se enturmar.

– Cara, lá no bar do Bilão tem um jogo chamado Briga de Rua. Vamos lá ver – disse Quitão.

Estranho pensar nessa história. Quase trinta anos passados e o local do boteco ainda existe. Embora transformado em outra coisa, imagino que aquela árvore e as telhas do bar de bebum testemunharam todo esse passar de tempo. Lembro que o bar era vermelho e o orelhão era aquele amarelo horroroso da antiga Telesp.

Enfim, eu não tinha nada para fazer naquela tarde. Peguei a Caloi Cross e cruzamos a cidade (na verdade, foram apenas quinze esquinas). Era uma cidade do interior de SP, tinha seus 40.000 habitantes à época, hoje, passou cem mil faz um tempo).

Chegamos no boteco, frente ao hospital da cidade. A primeira imagem do local não foi uma imagem, mas o cheiro de coxinha e salsicha em conserva (tão mnemônico ao voltar na minha mente hoje), misturado com cheiro de baralho, cigarro (era preciso se acostumar ao caos tabagístico dos anos 90), um pouco de cerveja seca pelo chão, paredes impregnadas de sujeita, uma sinuca, pouca luz e, ao fundo, uma máquina brilhante, gigante, com um sistema de som melhor que o meu System 3 em 1 da época. Daquela cabine brilhante e barulhenta emanava uma coisa que me encantou e vi que nunca mais sairia da minha cabeça.

Fonte: Cool Rom 

Aquele fliperama era uma obra dos deuses. Nunca tinha visto movimentação e efeitos sonoros de porradaria tão realistas. Tinha um cara vermelho e esguio (seria um ninja de rua?) que dava uma giratória em tambores que se liquefaziam no ar (gritava: rááááá), após um cara cabelo rastafari sair com uma mulher raptada no colo, que mais parecia um bebê, pela desproporção do cara de amarelo, aparentemente com dois metros e meio. O nome do jogo: Final Crash. De fato, ninguém ligava para o nome do jogo, até a pronúncia me soa estranha, uma vez que todos falavam em jogar o tal do Briga de Rua com o loirinho (Cody), pois ele permitia fazer uma apelação que hoje faz dos speedrunners que dominam a técnica os mais rápidos para finalizar este jogo.

Depois desse dia, fiquei imaginando a chance que teria de comprar uma ficha para jogar. Será que eu passaria do primeiro chefão? Será que chegaria na fase do ringue? Daria muitos pilões com o Haggar? Somente nessas fantasias, foram algumas semanas de visita ao boteco, sempre com minha bike cross, apenas para ver os caras jogando, geralmente, caras que já trabalhavam e tinham uma graninha para as fichas, que não eram tão baratas, sobretudo com o Plano Cruzeiro e os inúmeros cortes no zero das notas de 50.000 e 10.000 Cruzeiros, indo até o infinito de zeros.

Certo dia, em casa, falei desse jogo para o meu pai. Em uma das entregas que ele fazia de caminhão, pedi para passar nesse boteco. Como ele curtia uma cervejinha de vez em quando, acho que pensou: – Por que não dar uma parada, tomar uma cerveja com paçoquinha (e foi exatamente isso que ele fez; uma das imagens de que mais me lembro é a dele, esperando para comprar-me uma ficha com uma Malzbier pequena em uma mão e uma paçoquinha top na outra, enquanto falava de boca cheia, saboreando a feliz combinação amarga e doce). Ganhei a ficha e fiquei empolgadíssimo para lhe mostrar como dar o golpe do pilão do Haggar. Ele se mostrava impressionado, mas geralmente, era para as morenas que passavam na rua. Enfim, cheguei no tal do ringue do cara com duas espadas e fantasia de NFL (não, acho que essa era do Street Fighter Zero, enfim, uma espécie de Samurai americano); e ali meu coração disparou, mas não deu, Sodom me deu uma espadada no salto equívoco e lá se foi minha única ficha que teria nos próximos dois meses.

Passaram-se quinze anos, em 2007, eu, na faculdade com meu amigo, falando sobre a moda dos emuladores e eu lhe contei essa estória. Dizia-me que não conhecia esse tal de Final Crash. Embora eu não tivesse visto nenhum vídeo sobre (o Youtube despontaria no Brasil somente em 2008), tinha certeza de que o segundo nome era Crash e não Fight, pois a logomarca do game está estampada na minha mente até hoje. Ele elucubrou um pouco e foi para o polo computacional da faculdade. Lá, pesquisou que havia versões alternativas de jogos, mas pirateados com estilo, cujo nome são bootleg. Sim, depois de quinze anos, descobri que o Brasil foi terra de ninguém para diversos setores de games, e que, para conseguir trazer certos jogos, era necessário fazer das tripas coração para conseguirmos jogar um ou outro jogo nos fliperamas (o pior é que geralmente com atraso de anos aqui para o Brasil… nunca foi muito diferente com as tvs em cores, com os telefones fixos, com os celulares, com os computares… e a lista vai longe…) mas o que importa é que tínhamos em uma cidadezinha do interior com o Final Crash, bootleg de uma das maiores pérolas do Beat´n up de todos os tempos: Final Fight.


Referências:

COOLROM.COM. Final Crash (bootleg or Final Fight). Disponível neste link.  Acesso em 10 nov. 2020.

YOUTUBE. Final Crash (Bootleg of Final Fight) (Arcade) – (Longplay – Guy | Hardest Difficulty). Usuário TurkishBullet19. Disponível neste link. Acesso em 10 nov. 2020.

Jogo de luta com elementos de comédia Bubus Steel Punch entra em financiamento coletivo

​​Jogos de luta costumam ter um ar de seriedade, vide séries como Mortal Kombat e Street Fighter. Porém nem todos são assim, prova disso é o jogo indie Bubus Steel Punch, um jogo que mistura lutas desafiantes e elementos de comédia, gerando um produto diferente e bastante divertido. O título tem mecânica simples e enredo nonsense para arrancar gargalhadas do jogador.

O game conta com controles fáceis e uma mistura cuidadosa de elementos 3D e 2D. De acordo com os desenvolvedores, é possível incrementar o herói comprando novas roupas e trajes de batalha que adicionam um novo visual e mais combos de batalha ao personagem. O objetivo é reviver momentos de diversão de gerações passadas, sem esquecer a qualidade dos aspectos técnicos do game.

O game é inspirado em jogos clássicos da geração 16 bits como Sonic Blast Man e Final Fight. A ideia é do PlayWiiC, estúdio de games criado em 2015 pelo desenvolvedor William Trindade. O projeto obteve recentemente entrou em financiamento coletivo através do site Kickante e chamou as atenções por seu design pouco usual.

“A paixão pela criação de jogos fez com que, não somente eu me tornasse professor, mas também com que eu colocasse a mão na massa para desenvolver os jogos”, disse William, CEO e idealizador do estúdio. “Para quem gosta de um bom jogo de luta e ainda quer dar boas risadas, o Bubus é a melhor pedida”, completa.

Bubus Steel Punch contará com personagens engraçados e com habilidades únicas, o que dará maior imersão e garantirá maior afinidade dos jogadores com os protagonistas. Um exemplo é o Glu Glu, líder da Gangue dos Escoteiros e antigo rival de Bubus. Foi por causa de Glu Glu que o personagem principal do jogo perdeu muitas namoradas.

A história segue a trajetória de Bubus, um sujeito grandalhão que veio de uma família de ladrões e que vive em uma cidade infestada por gangues violentas e todo o tipo de bandidagem. Certo dia Bubus tem sua casa invadida por uma das gangues e para provar que ele também é um grande criminoso, sai à caça dos meliantes que entraram em sua casa. A reviravolta é que Bubus acaba por ser desafiado pelas inúmeras gangues da cidade, e pouco a pouco vai demonstrando estar mais parecido com um herói do que com um vilão.

Outro personagem icônico será o Senhor Chan, um chinês apaixonado por filmes de máfia italiana que sempre sonhou em entrar no crime organizado, mas por não conseguir, acabou criando sua própria irmandade chamada Gangue Ítalo Chinesa. “A parte cômica é que qualquer um pode entrar na gangue. Basta ser chinês e falar gesticulando como os italianos”, disse Carina Guimarães, gamedesigner da PlayWiiC.

Campanha de Bubus Steel Punch

A campanha de financiamento coletivo do Bubus Steel Punch já está no ar e precisa do apoio da comunidade para sair do papel. Com orçamento de R$ 45 mil para ser desenvolvido, o projeto terá 60 dias para arrecadar este valor através do site de crowdfunding Kickante. As pessoas que doarem fundos para o desenvolvimento do game receberão brindes exclusivos.