Dias desses um amigo escreveu um artigo para o Nintendo Blast sobre jogos do GameCube que mereciam remake. No meio da lista tinha o Paper Mario. Até aí tudo bem, o que não ficou bem foi um dos comentários que se seguiu de que o game não era lá essas coisas por causa da suposta “lacração”, uma vez que há um personagem LGBTQIAP + no game.
Isso me deixou preocupado. A partir de quando a comunidade gamer passou a adotar posturas que beiram o preconceito? Oras, em 1988 a Nintendo tinha a Birdo em Super Mario Bros 2 e nunca jamais houve tanta reclamação assim por parte dos jogadores. Então, o que está acontecendo com os jogadores? Ter um avatar da comunidade gay em um jogo eletrônico é realmente motivo para as pessoas surtarem?
A inclusão de personagens LGBT em videogames é uma questão de extrema importância para a sociedade contemporânea. Esta inclusão não só reflete a diversidade do mundo real, mas também desempenha um papel importante na promoção da aceitação e do respeito por todas as pessoas, independentemente de sua identidade de gênero ou orientação sexual. A representação de personagens LGBT nos jogos eletrônicos deve ser vista com naturalidade, uma vez que essas pessoas existem na vida real e merecem ser reconhecidas e respeitadas tanto quanto qualquer outro indivíduo.
Visibilidade e Representatividade
A visibilidade é um elemento central na luta por igualdade e respeito para a comunidade LGBTQIA+. Quando jogos eletrônicos apresentam personagens LGBT de forma positiva e autêntica, eles ajudam a normalizar essas identidades na cultura popular. Isso é crucial para a aceitação social, pois ao verem suas próprias experiências refletidas nos jogos, pessoas LGBT podem sentir-se mais validadas e aceitas. Para aqueles fora da comunidade, isso pode ajudar a fomentar empatia e compreensão. A visibilidade e representatividade importam para toda a sigla da comunidade LGBTQIA+, já que essa é uma das formas que essas pessoas se fazem ser enxergadas como indivíduos”.
Naturalidade na Inclusão
A inclusão de personagens LGBT nos videogames deve ser abordada de maneira natural. Na vida real, pessoas LGBT existem em todos os espaços, desempenham todos os papéis e enfrentam todos os desafios que qualquer outra pessoa enfrenta. Portanto, é apenas lógico que seus análogos digitais façam o mesmo.
Não há razão para que personagens LGBT sejam tratados como exceção ou novidade nos jogos. O caso de Erica em “Catherine” é um bom exemplo de como a naturalidade pode ser aplicada: apesar de seu passado e da transição serem parte de sua história, ela é apresentada como qualquer outro personagem, com suas complexidades e nuances.
Influência e Estudos Científicos
Um argumento frequentemente utilizado contra a inclusão de personagens LGBT em mídias é a suposição errônea de que a orientação sexual ou identidade de gênero dos personagens poderia “influenciar” os jogadores de maneira negativa. No entanto, não há estudos científicos que comprovem essa afirmação. Pelo contrário, a pesquisa demonstra que a exposição a diversas representações pode ajudar a reduzir preconceitos e promover a aceitação.
É fundamental compreender que a orientação sexual alheia, representada em um mero videogame, não tem o poder de alterar a identidade de um indivíduo. Os jogos são uma forma de arte e entretenimento, e como tal, devem refletir a diversidade da sociedade sem medo de represálias infundadas.
Respeito e Inclusão
Respeitar as pessoas LGBT significa reconhecer suas existências e histórias como válidas e importantes. Personagens como Tyler Ronan em “Tell Me Why” e Lev em “The Last of Us Part II” demonstram como a inclusão pode ser feita de maneira respeitosa e impactante. Tyler Ronan é retratado de maneira complexa e autêntica, com sua identidade de gênero sendo apenas um aspecto de sua personagem.
Lev, por sua vez, enfrenta desafios relacionados à sua identidade, mas é mostrado como um personagem forte e resiliente. Esses exemplos sublinham que personagens gays podem enriquecer a narrativa de um jogo, oferecendo histórias profundas e diversificadas que ressoam com uma ampla gama de jogadores.
Exemplos de Personagens LGBT em Jogos
A presença de personagens LGBT nos jogos está crescendo, e aqui estão alguns exemplos notáveis que mostram como essa inclusão pode ser impactante:
Tyler Ronan (Tell Me Why)
Tyler Ronan é um dos personagens principais de “Tell Me Why”. Trata-se de um homem transgênero que, junto com sua irmã gêmea Alyson, retorna à sua cidade natal no Alasca para resolver mistérios de seu passado e enfrentar traumas familiares. O jogo é notável por seu cuidado na representação de Tyler, consultando especialistas em identidade de gênero e trabalhando diretamente com a comunidade trans para garantir uma representação autêntica. A jornada de Tyler é mostrada de forma sensível, lidando com questões de aceitação, identidade e família.
Lev (The Last of Us Part II)
Lev é um jovem transgênero introduzido em “The Last of Us Part II”. Lev pertence a uma comunidade religiosa estrita que não aceita sua identidade de gênero, levando-o a fugir e enfrentar perseguição. A história de Lev é contada principalmente através da perspectiva de Abby, uma das protagonistas do jogo. O jovem é bastante corajoso e resiliente, cuja narrativa aborda temas como preconceito, sobrevivência e a busca por um lugar onde possa ser aceito. A inclusão de Lev gerou discussões variadas, mas é inegável que sua presença no jogo trouxe visibilidade importante para questões trans.
Erica Anderson (Catherine: Full Body)
Erica Anderson é uma personagem do jogo “Catherine” e sua versão expandida “Catherine: Full Body”, desenvolvidos pela Atlus. Erica é uma garçonete no bar frequentado pelo protagonista Vincent e seus amigos. Ela é uma mulher trans que passou por uma cirurgia de mudança de sexo antes dos eventos do jogo.
Apesar das dificuldades que enfrentou, Erica é retratada como uma personagem confiante e cheia de energia. Sua história aborda temas de aceitação e a complexidade das relações humanas. A amizade entre Erica e os outros personagens, bem como o romance potencial com Toby, é desenvolvida com sensibilidade e profundidade.
Krem (Dragon Age: Inquisition)
Krem é um personagem transgênero em “Dragon Age: Inquisition”. Ele é o tenente da companhia mercenária Bull’s Chargers, liderada pelo personagem Touro de Ferro. Nascido como uma garota, Krem sempre se identificou como homem e escondeu sua identidade para servir no exército. Após ser descoberto, ele encontra um lar e aceitação entre os Bull’s Chargers. A história de Krem é contada de forma respeitosa, explorando suas lutas e vitórias com autenticidade. A inclusão de Krem destaca o compromisso da BioWare com a diversidade e a representação positiva.
Birdo (Super Mario Bros. 2)
Birdo é um dos primeiros personagens transgêneros nos jogos, aparecendo pela primeira vez em “Super Mario Bros. 2” (1988). No manual do jogo, Birdo é descrita como um “garoto que acredita ser uma garota e gosta de ser chamada de Birdetta”. Apesar das inconsistências nas traduções e representações ao longo dos anos, Birdo é frequentemente vista como um ícone trans no mundo dos videogames. A personagem tem aparecido em diversos títulos da franquia Mario, muitas vezes retratada como parceira romântica de Yoshi.
Poison (Street Fighter/Final Fight)
Poison é uma personagem icônica da franquia “Street Fighter” e “Final Fight”. Originalmente introduzida em “Final Fight”, a Capcom posteriormente a integrou em “Street Fighter”. A identidade trans de Poison foi confirmada pelo antigo produtor Yoshinori Ono, apesar de ainda não ser canônico nos jogos. Poison é uma personagem forte e carismática, conhecida por sua habilidade e presença marcante nos jogos de luta. Sua história reflete a evolução da representação trans nos jogos ao longo dos anos.
Kasio (If Found…)
Kasio é a protagonista do jogo indie “If Found…”, desenvolvido pela Dreamfeel e publicado pela Annapurna Interactive. O jogo segue Kasio, uma jovem transgênero que retorna à sua cidade natal na Irlanda e reflete sobre sua vida e identidade através de um diário interativo. A narrativa íntima e pessoal de Kasio explora temas de aceitação, pertencimento e identidade de gênero, oferecendo uma experiência emocionalmente rica e profunda.
Sybil Reisz (Transistor)
Sybil Reisz é uma personagem secundária no jogo “Transistor”, desenvolvido pela Supergiant Games. Embora não seja a protagonista, Sybil é uma mulher transgênero cuja história adiciona profundidade ao mundo do jogo. “Transistor” é um RPG de ação que segue Red, uma cantora que usa uma espada poderosa chamada Transistor para lutar contra uma força misteriosa. A presença de Sybil no jogo destaca a diversidade do elenco e a complexidade das histórias que podem ser contadas no gênero.
Esses exemplos demonstram como a inclusão de personagens LGBT nos videogames não só enriquece a narrativa, mas também promove a aceitação e o respeito por todas as identidades. À medida que a indústria de jogos continua a crescer e evoluir, podemos esperar ver mais personagens trans e LGBT em papéis principais, refletindo a verdadeira diversidade do mundo em que vivemos. E aí, vai continuar reclamando da sexualidade de NPCs em jogos eletrônicos ou vai aceitar que eles existem e tem o seu espaço?