OMS reconhece dependência em games como doença – Docente do curso de Psicologia da Estácio esclarece impactos

Desde o dia 1º de janeiro deste ano a Organização Mundial de Saúde (OMS) entende que a dependência de games como uma doença capaz de trazer prejuízos físicos e emocionais nos âmbitos pessoal e profissional. O transtorno ganhou tratamento no Brasil, chamado de “Computer Gaming Addicts Anonymous (CGAA)” — adictos em jogos eletrônicos anônimos — com reuniões semanais feitas pelo Zoom.

A docente do curso de Psicologia da Estácio, Renata Mafra, ressalva que o gaming disorder (transtorno dos jogos eletrônicos), como também é conhecido, mesmo sendo classificado como uma dependência comportamental, possui um mecanismo de funcionamento semelhante ao da dependência física (química).

“A dependência física está associada ao uso de substâncias psicoativas que agem no cérebro, repercutindo no psiquismo e no comportamento humano. Essas substâncias atuam nas áreas ou circuitos de recompensa do cérebro, liberando a dopamina, que é um neurotransmissor associado à sensação de prazer”, elucida.

Segundo a psicóloga, o adicto nega a dependência e a prioridade que o jogo passa a ter em sua vida. “Os principais sintomas estão relacionados ao tempo, à intensidade e à prioridade que o jogo ganha na vida de quem passa a substituir os momentos e a relação com família, trabalho, estudos, lazer, amigos, dentre outros”, aponta Renata Mafra.

O tratamento exige um acompanhamento de profissionais especializados, mas a rede de apoio é fator fundamental. “A psicoterapia atuará nos aspectos comportamentais, afetivos e sociais, enquanto que a psiquiatria irá estabelecer um tratamento medicamentoso de apoio aos sintomas de abstinência e de transtornos associados. Além do suporte familiar, grupos, como os Jogadores Anônimos, possibilitam o encontro com pessoas que já passaram por períodos ou situações semelhantes e podem contribuir com suas histórias e estratégias de superação”, orienta a docente da Estácio.

O comprometimento do vício em games pode ser ainda mais grave em crianças e adolescentes porque estão em processo de desenvolvimento, podendo ainda manifestar a síndrome de abstinência por meio de irritabilidade, insônia, ansiedade e tremores.

“A diversidade das atividades escolares, o esporte e o convívio social possibilitam a evolução emocional e cognitiva. A dependência intervém sobre esse processo com consequências diversas: problemas de interação social, isolamento, alterações no sono, na alimentação, na afetividade, sedentarismo, irritabilidade e baixo desempenho nos estudos. Se os jogos têm um apelo violento, há ainda uma sobrecarga de estresse com aumento na liberação de cortisol, além de alterações no comportamento”, observa Renata Mafra.

Para prevenir o contato nocivo de crianças e adolescentes com games, Renata Mafra destaca que é preciso estabelecer limites de tempo de exposição.

“A Sociedade Brasileira de Pediatria lançou um manual que estabelece o tempo de uso de tela adequado para crianças e adolescentes, inclusive os jogos. No entanto, existem pessoas mais predispostas à dependência e no caso de jogos, estudos indicam que pessoas do sexo masculino e aquelas com algum transtorno compulsivo ou personalidade impulsiva são mais propensas. A boa notícia é que existem fatores protetores que contribuem para a prevenção, que é uma presença atenta a afetuosa da família, a prática de esportes, a limitação educativa no tempo de uso de tecnologias, as atividades ao ar livre”, salienta a psicóloga.

EndeavorRX – EUA aprovam jogo para tratamento de déficit de atenção

Os jogos eletrônicos conquistaram um marco histórico nesta semana. A Food and Drug Administration (FDA), uma agência ligada ao Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos permitiu que o jogo EndeavorRX (Akil Interactive) seja prescrito para tratamento de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) para crianças de 8 a 12 anos. Sim, pela primeira vez na história um jogo será prescrito como um medicamento.

A decisão foi tomada após sete anos de ensaios clínicos envolvendo mais de 600 crianças. Segundo o experimento, um terço das crianças que participaram não tiveram mais problemas de concentração após jogar o game por cerca de 25 minutos por dia, durante cinco dias por semana em um intervalo de quatro semanas. A FDA passa assim a autorizar que médicos prescrevam o título, que está disponível na App Store.

“A melhora no TDAH após um mês de tratamento com EndeavorRX foi mantida por até um mês”, afirma o site da empresa. Os efeitos colaterais mais comumente relatados são frustração e dor de cabeça – moderados aos associados à medicina convencional. No entanto, deve-se notar que o estudo foi realizado por médicos empregados pelo desenvolvedor do jogo, e eles também observam que os resultados são “insuficientes para sugerir que o jogo deva ser usado como uma alternativa aos tratamentos estabelecidos e recomendados para o TDAH”, diz o comunicado da Akil Interactive.

Apesar de animador, é necessário manter cautela, uma vez que os estudos foram conduzidos por médicos contratados pela desenvolvedora, o que pode ser considerado conflito de interesses. Vale destacar que o próprio estudo conduzido concluiu que os resultados não são conclusivos, uma vez que não são suficientes para sugerir que EndeavorRX seja tratado como substituto de outros tratamentos.

É necessário informar que EndeavorRX possui seus efeitos colaterais, tal como qualquer outro medicamento, tais como frustração, quando não se obtém sucesso e dores de cabeça de cabeça quando jogado por longos períodos.Ainda assim, a comunidade gamer americana entende que o jogo pode ser usado como mais uma maneira complementar para reabilitar crianças com essa condição.

Sobre EndeavorRX

O game é um platformer com visuais bem infantis e que lembra clássicos do gênero como Crash Bandicoot, Spyro e Ratchet & Clank. Os jogadores devem desviar de variados obstáculos, destruir inimigos e colecionar itens. Tudo bastante colorido vibrante para capturar as atenções dos jogadores.

Abaixo você confere o trailer de EndeavorRX:

Dig Rush: primeiro jogo terapêutico baseado em método patenteado para tratar ambliopia

A Ubisoft e a Amblyotech decidiram investir em um gênero pouco explorado para desenvolver um novo projeto. Trata-se do gênero de jogos terapêuticos, agora representado pelo game Dig Rush, que tem como objetivo o tratamento da ambliopia, conhecida como “olho preguiçoso” ou “olho vago”.  Dig Rush é baseado em técnicas criadas pelos doutores Robert Hess, Benjamin Thompson, Behzad Mansouri, Jeremy Cooperstock, Long To e Jeff Blum da McGill University.

O game em si é bastante simples: você controla dois mineradores e uma plataforma, de modo que você deve elevar um dos mineradores enquanto faz o outro seguir da esquerda para a direita. O minerador que está na plataforma, uma vez que chega ao topo, deve ir da direita para a esquerda. Deste modo o jogador deve concentrar-se nos dois pontos do ambiente. Este é um apenas um dos cenários do game, e há outros desafios que vão treinar a visão do jogador.

O game é para tablets e para fazer efeito é necessário o uso de um óculos 3D, aqueles em que um lado é vermelho e outro azul. O melhor mesmo é que ao invés de tratar apenas o olho fraco, Dig Rush estimula os dois olhos, binocularmente, para treinar o cérebro a melhorar a capacidade visual do paciente por meio de diferentes níveis de contraste entre azul e vermelho que podem ser vistos através de óculos estereoscópicos. Com esse método, os médicos podem ajustar as configurações do jogo de acordo com o grau de fraqueza do olho do paciente, permitindo que os dois olhos acompanhem os desdobramentos da partida.

“Enquanto as opções atuais de tratamento, como o uso de tampão, proporcionam alívio limitado e tem baixa adesão de pacientes devido ao desconforto e estigmas sociais, a terapia eletrônica da Amblyotech tem sido testada clinicamente para melhorar significantemente a capacidade visual tanto de crianças quanto adultos que sofrem dessa condição e não utilizam outros tipos de medicação. A partir da parceria com a Ubisoft, temos ainda mais condições de dar aos médicos um panorama completo e certeiro da adesão de novos pacientes e monitorá-los ao longo do tratamento”, disse Joseph Koziak, CEO da Amblyotech.

Atualmente, o tratamento mais comum da ambliopia é o uso do tampão, mas este método é pouco aderido pelos pacientes devido ao desconforto e aos estigmas sociais e brincadeiras de mau gosto. A ambliopia atinge até 3% das crianças de todo o mundo e se não for tratada corretamente pode causar cegueira na idade adulta.

Dig Rush é uma realidade, mas ainda depende da anuência da FDA, órgão regulador americano, para que possa ser colocado no mercado como forma de terapia. Assim que reunir todas as aprovações regulatórias, o tratamento ficará disponível em todo o mundo. A esperança é que o game ajude pessoas com ambliopia a recuperar a saúde visual em pouco tempo e de maneira eficaz.

Abaixo tem um vídeo do game Dig Rush: