Review: Hellblade 2 é um poema cinematográfico em formato de jogo 

Texto por: Victor Candido 

Em 2017 a Ninja Theory (desenvolvedora de jogos como Heavenly Sword, Enslaved, DMC: Devil May Cry e Bleeding Edge) resolveu lançar um jogo cuja experiência fugia de diversos padrões da indústria, e até mesmo dos jogos que eles vinham lançando até a data,  nascia ali Hellblade: Senua’s Sacrifice, um jogo com foco narrativo acima da média, onde a jogabilidade simples casou-se com uma experiência sensorial única, é um jogo onde praticamente você é obrigado a jogar com fones de ouvido devido ao seu excelente tratamento sonoro e imersão, além de trazer visuais impressionantes e captura de expressões faciais incríveis. 

Sendo um jogo que trata de um tema altamente sensível (saúde mental), acabou tornand0-se referência neste assunto, sendo uma experiência altamente precisa e talvez um dos melhores conteúdos interativos já produzidos que trata deste assunto. 

Passados sete anos, surge a sua continuação, intitulada de Senua’s Saga: Hellblade 2, uma nova experiência narrativa em formato de jogo. A primeira coisa que deve estar clara é que quem adorou o primeiro, tem a obrigação de jogar o segundo. Entretanto, aqueles que não apreciaram o estilo do primeiro game é melhor passar longe, pois é fato de que não é um jogo para todos. É aquele tipo de produto que não vai fazer um desconhecedor de games a passar a gostar desse tipo de entretenimento, pois o desconforto trazido por esse jogo traz é real graças a sua alta imersão. 

O que é Hellblade 2

Existem diversas formas de se contar uma história, seja em livros, quadrinhos, filmes,  obras de artes, músicas e por que não, jogos.  Hellblade não quer que você passe horas e horas matutando um puzzle ou enfrentando hordas de inimigos. A dinâmica aqui aqui é que você simplesmente aprecie a história.

Então o que define ele como jogo, não é exatamente a melhor coisa dele, que seria seu loop entre combate e puzzles, mas sim seus corredores lineares, onde a todo momento as vozes da cabeça de Senua lhe conta algo. Cutscenes, seu belíssimo visual, paisagens e os coletáveis, tudo está interligado a história e o conjunto disso formam o que realmente Hellblade é: um poema cinematográfico em formato de jogo. 

A história de Hellblade 2 ocorre um pouco depois do primeiro, Senua está em barco de escravos indo para a Islândia, atrás dos escravagistas que castigaram o seu povo no primeiro jogo. Esse barco naufraga e Senua deve explorar essas terras desconhecidas descobrindo a existência de gigantes e o horror que eles trazem. A grande surpresa é que a personagem não está sozinha, dessa vez existem pessoas que vão acompanhá-la e isso traz um ritmo melhor ao jogo e torna a jornada ainda mais  interessante. 

Seu texto aborda diversos temas como solidão, vingança, medos, propósitos na vida entre outros aspectos, ele não é  tão direto como o do primeiro jogo onde retratou luto de forma bastante clara, muitas coisas estão nas entrelinhas e cabe a interpretação, mas em sua camada mais fina você encontra uma jornada até mesmo de heroísmo, com diversas nuances e aquela já conhecida abordagem de saúde mental vinda do primeiro jogo segue presente. Dando ao jogador uma imersão entre realismo e alucinação. 

A escrita mostra uma maturidade muito maior do que a que foi vista no primeiro jogo, o tratamento dos diálogos, ritmo de jogo e a forma como a Ninja Theory lida com a psicose mostra um trabalho de evolução nesses aspectos o tornam Hellblade 2 muito melhor que seu antecessor. 

O combate está melhor, mas não é perfeito

Hellblade 2 melhora muito aspectos do seu antecessor, porém os puzzles continuam chatos. Felizmente esses quebra-cabeças são mais escassos e o combate está muito mais brutal, divertido e, dessa vez, as mecânicas casam perfeitamente, pois você sempre irá enfrentar um inimigo por vez, ou seja, o maior problema do combate do primeiro jogo foi corrigido. Mas apesar disso o combate segue com um fator de estranheza, pois a impressão de que se dá é que em momentos onde possui diversos inimigos na cena, eles formam uma fila e você enfrenta eles um a um, o que soa engraçado na prática. 

Outro fator ruim é a repetição de inimigos, algo bastante comum em diversos jogos, mas penso que se os combates desse jogo são tão pontuais caberia um esforço em tornar isso em menor escala, com mais inimigos únicos e formas individuais de derrotá-los e torná-los mais desafiadores, pois de modo geral o jogo é fácil. 

Ainda falando dos combates, eles são como cutscenes interativas, estão ligados diretamente a história na maioria das vezes, e possui jogos de câmeras muitos cinematográficos, além de atuações e movimentação bastante realistas. A brutalidade dos combates segue presente em um teor ainda maior que o antecessor, e  Senua aqui interpretada novamente por Melina Juergens dá um show de atuação durante o combate. A coreografia torna o impacto dos combates muito maior e mais prazeroso do que foi no primeiro jogo. 

De forma geral, é um combate competente, dentro do escopo, mas o jogo está longe de ser resumido a isso, pois definitivamente, Hellblade não é sobre isso. 

Em menor escala, os puzzles estão no jogo apenas para quebrar o ritmo

Um dos problemas do primeiro jogo sem dúvida alguma é a quantidade de puzzles e como eles são feitos, onde praticamente todos eles se resumem a encontrar símbolos no cenário para abrir uma passagem. Aqui isso se repete, felizmente em uma escala muito menor. 

Infelizmente os puzzles são os momentos mais fracos de Hellblade 2, todos eles são simples e como o jogo é curto fico me perguntando porque que não deram mais atenção a esse ponto, colocando desafios melhor elaborados. Certamente Hellblade 2 ganharia mais valor nesses aspectos. 

A impressão de que se dá é que os puzzles estão ali para tentar atrasar o jogador, quebrando o ritmo do jogo. 

A experiência está mais densa e flerta com o medo

O que torna Hellblade 2 um jogo charmoso é sem dúvida o conjunto da obra e não aspectos isolados, estamos diante de um jogo que quer te contar algo nem que isso sacrifique uma jogabilidade mais empolgante. 

Outro ponto a ser ressaltado é a sua abordagem quanto ao jogo como todo, Hellblade 2 é um flerte com o terror, desespero, solidão e trevas. Tudo isso é trazido à tona ao longo dos corredores, trilhas e campos em que Senua caminha, acompanhada pelas vozes em sua cabeça. Assim, resta ao jogador adentrar um caminho que muitas vezes vai soar perturbador, criando uma experiência que (para alguns) pode soar como um “walk simulator” onde tudo que você faz é caminhar, mas se você parar e perceber tudo que está ao seu redor é um formato de narrativa bastante interessante onde tudo que lhe cerca quer te contar algo, de forma indireta e direta. 

Existem trechos  densos e carregados de sentimentos negativos, você sente o peso disso observando o cenário, na atuação dos personagens e nos diálogos. Tudo no jogo é carregado de uma tristeza  e nessa jornada Senua deve passar por um fardo muito maior que isso e  o jogo como todo transmite isso muito que bem.

Hellblade 2

Visuais de cair o queixo e eis aqui o tal jogo de “nova geração”

Visualmente ouso dizer que nenhum jogo traz tamanho visual, até mesmo Alan Wake 2 que é um dos jogos mais bonitos já lançados.  Joguei em um PC equipado com uma RTX 3060 e com isso consegui jogar na qualidade “alta”. Com essa configuração, não obtive uma taxa de quadros estável, mas foi o suficiente para conseguir concluir o game. É impressionante o trabalho aqui feito, seja de texturas do cenário, poças de água, efeitos de iluminação, fogo, neblina, céu e a grande cereja do bolo: expressões visuais. O trabalho de detalhes nos personagens é um dos aspectos mais impressionantes

O jogo é feito na Unreal Engine 5 e talvez seja o melhor trabalho feito com esse motor até então, ainda que estejamos falando de um jogo linear, com cenários fechados, sem muitos elementos na tela como outros NPCs. Dito isso, é óbvio que é mais fácil dar essa densidade de detalhes do que em um GTA, por exemplo, ainda assim, se quiser mostrar a alguém os tais gráficos de nova geração, Hellblade 2 é o melhor até agora. Os visuais desse jogo estão em um nível tão acima que parei um pouco para brincar com o modo foto deles e as capturas presentes aqui são tiradas diretamente dele. 

Trabalho sonoro continua sendo um espetáculo

Assim como seu antecessor, Hellblade 2 possui diversos avisos da obrigação de jogar com fones de ouvido,  e ela faz total sentido, Senua é uma personagem que escuta vozes em sua cabeça, e são sussurros  que dão uma experiência imersiva sem tamanho ao jogador, e é impossível que outra saída de áudio faça igual, mas não é o único motivo, todo trabalho de áudio seja foley (captura de som por objetos), diálogos, explosões e nos combates estão a um patamar muito acima do primeiro, estão melhor mixados e tratados de forma artesanal para que toda essa obrigação com fones de ouvido faça total sentido. 

Hellblade 2

Conclusão: Hellblade 2: Senua’s Saga até essa data, é um marco do audiovisual quando o assunto é jogos 

Hellblade 2 é um jogo que está acima de tudo em termos visuais e tanto sua jogabilidade quanto o combate não são as melhores, mas estão longe de ser um desastre e há melhorias visíveis em relação ao primeiro. Trata-se de uma experiência linear com cerca de 7 horas de duração, dependendo do que você fizer. 

Como experiência narrativa ele brilha e muito, possui momentos sufocantes, com impressionantes atuações, combinados com um deslumbrante visual, mostrando que o jogo tem mais poder sobre esses aspectos do que com outros.  Sua conclusão é bastante incômoda, sem dar spoilers, aqui a experiência foi bem mais interpretativa do que foi visto no primeiro, deixando um gosto de “quero mais” e sinceramente torço para existir um terceiro jogo dessa franquia. 

É um jogo que me prendeu do início ao fim, pois possui um ritmo muito melhor que o primeiro jogo, sendo uma experiência melhor refinada com uma abordagem muito mais densa e melhor apreciada. Sendo uma evolução do primeiro jogo honesta e necessária. 

Nota: 8 (Bom)

Top 7 – Lançamentos mais aguardados de 2020 para a indústria de games

O ano de 2019 deixará saudades para os aficionados por videogames, pois foi neste ano que diversos lançamentos surgiram e encantaram os jogadores, todavia o show deve continuar e o ano de 2020 promete ser tão espetacular quanto o anterior graças a uma infinidade de lançamentos bombásticos ao longo do ano. Afinal, como todos sabemos, em 2020 presenciaremos o nascimento de uma nova geração de consoles, além de jogos incríveis que estão no forno.

Confira abaixo os 7 principais lançamentos da indústria de games para 2020:

7 – The Last of Us Part II

Quando The Last of Us surgiu a comunidade havia perdido as esperanças no gênero terror, afinal já havia alguns anos que qualquer jogo do gênero desapontava. O título do PS3 foi buscar inspiração na indústria de Hollywood e a Naughty Dog mostrou que de fato era a melhor produtora de games da atualidade, podendo fazer mais do que a franquia Uncharted. O enredo cinematográfico, a jogabilidade tensa e os cenários maravilhosos credenciaram o título como um dos expoentes de seu tempo e permitiu que (mesmo com seu final fechadinho) os jogadores implorassem por uma sequência.

Sabe-se que a trama se passa 5 anos após os eventos do primeiro game e que a protagonista da vez será Ellie, a pretensa salvação do mundo. A Naughty Dog já adiantou que um dos temas recorrentes do game será o ódio e as reviravoltas devem proporcionar momentos chocantes. O poder do PS4 deve permitir que os produtores criem um dos games mais bem acabados e emocionantes de 2020.

6 – Cyberpunk 2077

A CD Project RED é uma empresa de poucos, porém valiosos, jogos. The Witcher III é seguramente um dos melhores RPGs da geração e o tempo de desenvolvimento de Cyberpunk 2077 é um belo indicativo de que a empresa prepara um dos maiores e mais completos jogos que a comunidade verá. Sai o ambiente medieval, entra uma sociedade distópica viciada em tecnologia.

Neste ambiente você será um mercenário com altas habilidades em hack e em máquinas que deve cumprir variadas missões. Um fato que desagradou parte da comunidade é que ele será em primeira pessoa, mas os produtores garantem que a sensação de imersão será incomparável. Há ainda outros dois grandes motivos para hypar Cyberpunk 2077:

1 – Ele conta com fortes influências de verdadeiros clássicos como Blade RunnerGhost in the ShellSystem Shock e Deus Ex.

2 – Tem participação do Keanu Reaves

5 – Resident Evil 3

Se há algo que a Capcom não decepciona é com os remakes de sua franquia mais famosa. Desde os idos do Game Cube, a empresa se mostrou eficiente em recriar os horrores de Resident Evil de maneira que superasse o original em todos os aspectos. A versão relançada para PS4 e Xbox One confirmou a premissa e o mais recente Resident Evil 2 só tornou a aventura ainda mais bacana. Agora é a vez de reviver a aventura de Jill Valentine enquanto foge da arma biológica da Umbrella chamada Nemesis. É seguro dizer que a Capcom vai entregar um dos, senão o melhor, jogo de terror de 2020. S.T.A.R.S.

4 – Ori and the Will of the Wisps

O primeiro Ori (Blind Forest) foi grandioso, mostrando que jogos 2D ainda tinham espaço sim na comunidade. Seus gráficos estilizados e jogablidade rasteira praticamente o transformaram em um clássico instantâneo. O segundo game promete fazer ainda melhor, com um ambiente mais soturno e novas mecânicas de combate. Uma vez que Will of the Wisps é apenas o segundo jogo da Moon Studios, será a oportunidade de eles mostrarem que o primeiro Ori não foi um mero golpe de sorte, de modo que a sequência tem tudo para posicioná-los como um dos principais estúdios de desenvolvimento de games da atualidade. Além disso, o primeiro Ori por si só é uma obra de arte. O segundo tem tudo para ser o jogo mais artístico de 2020.

3 – Final Fantasy VII Remake

A primeira vez que se falou em um remake de Final Fantasy VII foi em 2005 durante a exibição de uma demo tecnológica mostrando a abertura recriada para o PS3, desde então as exigências da comunidade foram crescentes. Foi somente 10 anos depois disso que a Square-Enix anunciou oficialmente a produção de um remake para o PS4. O tempo de produção já perdura 5 anos. Esse tempo arrastado geralmente é um indicativo de que o game final será uma bomba fedorenta, mas neste caso os indicativos são outros.

Sabe-se que a produção atrasou muito em decorrência de Tetsuya Nomura ter se ocupado com Final Fantasy XV e Kingdom Hearts III, além disso, a Square parece empenhada em entregar um game que faça jus ao legado do original. Para isso, vale mudar a jogabilidade, contratar novos dubladores e recriar o título com gráficos atuais. O objetivo é garantir que Final Fantasy VII esteja conectado com os jogadores atuais, ao invés de apenas copiar e colar o que deu certo no passado. Se as promessas forem cumpridas, pense neste game como uma bela despedida da Square a PS4.

2 – Xbox Series X

A Microsoft passou por tempos turbulentos na atual geração: o início de vida do Xbox One foi nada menos que desanimador, mas aos poucos Phil Spencer ajustou o Xbox com as demandas da comunidade, tornou o console retrocompatível com seus parentes mais velhos, melhorou o serviço Xbox Live Gold e criou o Game Pass, que praticamente tornou o Xbox na plataforma mais vantajosa para os hard players. No final de 2019 a empresa já antecipou os planos para 2020 com o anúncio do Xbox Series X, o console que promete ser o videogame mais poderoso jamais criado.

Os engenheiros encheram a boca ao anunciar que a máquina terá resolução 8K, ray tracing, alta velocidade e um desempenho irreprimível. Mas se há algo que a empresa de Redmond foi capaz de fazer que torna o Xbox Series X mais desejável é sua nova política de produção de jogos First Parties: a empresa saiu comprando todo estúdio talentoso possível, desde a Undead Labs (State of Deay) até a Obsidian (Fallout: New Vegas). Ao todo a Xbox Game Studios conta com 16 subsidiárias, garantindo que o próximo Xbox deve receber uma infinidade de jogos exclusivos ao longo dos anos.

1 – Playstation 5

A marca Playstation é sem dúvidas a mais respeitada da indústria do jogos eletrônicos em quesito hardware. O excelente trabalho realizado pela Sony com o Playstation 4 certamente serviu para calar os críticos que consideravam a empresa retrógrada e pouco conectada com sua comunidade. A gigante japonesa ainda guarda a sete chaves os detalhes do PS5, mas sabe-se que ele será capaz de rodas jogos em 8K e deve seguir a premissa de entregar uma máquina poderosa e com jogos desejáveis. A falta de notícias sobre a máquina só deixa uma certeza no ar: a Sony prepara algo grandioso para 2020 e a estratégia é não deixar a concorrência se aproveitar das ideias que poderão advir da nova máquina.

Bônus – Sonic The Hedgehog

Sim, não é bem um game, mas sim o filme do ouriço da SEGA. Após a polêmica do primeiro trailer, os produtores mudaram o design do Sonic ao custo de cerca de US$ 35 milhões. Goste ou não, Sonic é um dos personagens mais carismáticos e adorados dos videogames, o que deve levar um caminhão de fãs para as portas dos cinemas. Além disso, ter Jim Carrey no papel de Robotink dá ao projeto a oportunidade de ser visto por mais pessoas, mesmo àquelas que não se importam com videogames, e a possibilidade de ter um filme mais divertido e leve. Não, na realidade não achamos que será um filme verdadeiramente bom, mas ainda assim, vamos dar um voto de confiança ao pobre (e já acostumado a ser surrado em outras mídias) Sonic.